Show do grupo cubano Orishas em Curitiba marca o retorno ao Brasil após 13 anos

Orishas em Curitiba: Hip hop e celebração à Cuba

Texto por Anna Barbara Tuttoilmondo
Revisão – Willian Jhonnes
Fotos – Lening Abdala

Orishas é uma prova de que a boa música, feita com sinceridade e amor, pode não apenas unir estilos como unir culturas. Criado no final dos anos 90, o grupo formado em Havana – a icônica capital cubana – ousou ao misturar os dançantes ritmos latinos, como salsa e rumba, com a agressividade e a verdade do hip hop. Com letras marcantes sobre experiências pessoais, reflexões sobre a sociedade cubana e memórias de sua cidade natal, Orishas tornou-se um grupo cultuado não apenas por seus fãs como por artistas do hip hop e pop em geral. Sua curta, porém, emblemática discografia, nos presenteou com os discos A Lo Cubano (1999), Emigrante (2002), El Kilo (2005) e Cosita Buena (2008). O show dos cubanos do Orishas em Curitiba foi aquilo que se esperava: uma verdadeira celebração à terra natal de seus integrantes.

Após um longo hiato, o trio formado por Ruzzo MedinaYotuel RomeroRoldan Gonzalez decidiu se reunir em 2016 para alguns shows e, apenas ano passado, lançaram o single. Sastre de tu Amor, que os levou a uma pequena turnê de reunião nos Estados Unidos, Europa e América do Sul, passando pelo Brasil no final de 2017. O sucesso desse retorno foi tão grande que aconteceu o óbvio: a necessidade de marcar novas datas no país. E, assim, após 13 anos (a última passagem dos caras por terras tupiniquins foi em 2005 com a turnê de divulgação do álbum El Kilo), Orishas confirmou sua World Reunion Tour com 4 datas no país: Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Em Curitiba, o show aconteceu no Teatro Positivo.

“Orishas son del lao de La Havana”

Orishas em Curitiba
Orishas em Curitiba

O show iniciou às 21h30 com um Teatro Positivo lotado de pessoas de estilos e idades das mais variadas. Homens, mulheres, jovens e adultos encheram o grande auditório para matar as saudades daqueles que já foram conhecidos como amenaza (ameaça, em espanhol). Contando com apoio dos músicos Tony Molina (trombone/trompete), Joulien Ferrer (trombone/piano), Yuvisney Aguilar (percussão) e DJ TIllo, o palco do Teatro Positivo logo foi dominado pela presença marcante de Yotuel, Ruzzo e Roldan. Após uma introdução, a qual já nos adiantava o que viria pelas próximas 1h30 de show (spoiler alert: muito hip hop), o trio abriu a noite com “Represent Cuba“, na qual o “comportado” público logo se animou para dançar e cantar junto.

“Ven que te quiero cantar de corazón así
La historia de mis raíces
Rumba son y guaguancó todo mezclado
Pa que lo bailes tu
Mira hay quién no baila en la Habana?”

– Represent

Porém, em Hay un son,  que é uma música com uma batida ligeiramente mais lenta, o público logo se acanhou. Não lembro exatamente se foi antes, durante depois de Atrevido, que Yotuel parou o show para dar aquela famosa bronca no público curitibano que costuma ficar parado nas apresentações. Mas eu lembro bem das duas coisas que pensei na hora: “que vergonha” e “mas não tinha outro lugar pra fazer esse show?”. Vamos lá, antes que me crucifiquem, o Teatro Positivo é sensacional. Uma estrutura maravilhosa, som perfeito. Mas esse não é o tipo de show que você vê em um teatro. Orishas tem agito, tem dança, tem batida… Você precisa de espaço pra poder se mexer, poder chegar perto do palco sem se preocupar.

E esse pensamento me acompanhou ao longo de toda a apresentação. Vi muitos videos do Orishas em casas de shows e em festivais e lógico que a vibe era outra. Não tem como não ser. Um exemplo de como a casa escolhida influencia na hora do show é na música Bembé, cuja batida leva, além do som característico do Orishas, um toque de trap music. A música, tocada no show, só não teve mais agito por falta de opção mesmo.

Se você ainda não ouviu, dá uma espiada no clipe:

“Mi Orishas como un imperio voy a construir”

O trecho de A Lo Cubano mostra toda a força do Orishas, cuja música veio acompanhada por imagens de Cuba nos telões do Teatro Positivo e arrancou gritos da platéia que a essa altura, já tinha deixado levar-se pelo contagiante Yotuel, quem mais interagia com a plateia, e pelos passos coreografados de Roldán e Ruzzo

Em seguida vieram Mistica e a nova Sastre de Tu Amor, uma gostosa baladinha ao melhor estilo reggaeton para dançar coladinho. Não devo deixar de ressaltar que o show fez um apanhado nos principais hits dos caras, como 537 Cuba e a tocante El Kilo, bem como nos apresentou as novidades do trio que já prometeu um novo álbum intitulado Gourmet, cujo lançamento está marcado para abril.

Um ponto curioso do show foi a mistura de rumba com rock n’ roll na qual os dois trombonistas do grupo, Tony Molina e Joulien Ferrer, assumiram o palco para um solo com efeito de distorção em um duo de Seven Nation Army, do The White Stripes. O experimento foi um sucesso e levou o público à loucura.

“Con los que dicen que cantan yo quiero cantar”

Após Qué Pasa, o trio encenou a clássica despedida que antecede o bis do show. Alguns poucos minutos depois, o trio retornou ao palco para as três últimas músicas da noite. Lançada em 2016, Cuba Isla Bella é uma linda homenagem à Cuba.

“Regreso a la cuna que me vio nacer
Regreso a este barrio que me vio correr
Lo que fui, lo que soy y seré, por mi isla bella”

– Cuba La Isla Bella

Encerrando a noite, veio Everyday, outra música romântica com uma pitada de reggae, bem gostosa de ouvir e cantar junto e, fechando com chave de ouro, aquela que talvez seja a mais famosa música da banda: Nací Orishas. Neste momento, neste precioso momento, enfim, o público resolveu deixar de lado as convenções sociais e desceu para perto do palco, como é possível observar neste clique do fotógrafo Lening Abdala:

É simplesmente impossível ficar parado com toda a ginga e o refrão grudento do clássico hit do album El Kilo. Talvez o público curitibano precisasse de mais uma horinha de show para poder se soltar mais e mostrar todo o seu ânimo. De qualquer forma, foi gratificante ver a volta de um nome tão icônico quanto o Orishas e toda a celebração da música cubana, do hip hop e da cultura latino-americana.

Aguardamos pelos próximos shows do Orishas em Curitiba e, nas palavras do próprio grupo:

“Quem nasce com talento ninguém pode tirar
Os Orishas confiam naquilo que sempre te dão
Cada um com seu dilema
Cada louco com a sua mania”

– Nascí Orishas

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