Iron Maiden reúne gerações de fãs em noite marcante na Pedreira Paulo Leminski

Após 14 anos, os ingleses do Iron Maiden retornam à pedreira Paulo Leminski

Por Anna Tuttoilmondo
Fotografia: Willian Jhonnes

Shows dos ingleses do Iron Maiden em Curitiba são sempre um grande evento, gerando muitas expectativas. Desde questões burocráticas ao planejamento logístico, cada passagem do grupo inglês por essas bandas é impactante o suficiente para causar ansiedade em todos, sejam fãs ou não. Em Curitiba, o show trouxe consigo um gostinho a mais de excitação pois, além de marcar o retorno do grupo – a última passagem foi em 2013 -, também marca o retorno à Pedreira Paulo Leminski, 14 anos depois.

Devido à sua fama de imprevisível, temia-se que o tempo, assim como em 2013, virasse e, com isso, prejudicasse os shows. Contudo, Curitiba brindou-nos com um dia e uma noite extremamente agradáveis, de muito calor – nosso famoso “veranico”. Sendo assim, não foi nenhuma surpresa ver que milhares de fãs já aguardavam pacientemente a abertura dos portões. Haviam, também, alguns corajosos que há alguns dias já acampavam na entrada para a pista premium, tudo para poder ficar mais perto do palco.

Com ingressos esgotados desde o início da sua venda, ainda em abril, um público de 25 mil pessoas era esperado pela prefeitura, que promoveu alterações no planejamento de trânsito, alterando linhas de ônibus e bloqueando ruas no entorno da Pedreira Paulo Leminski. Para o fim do show, ônibus gratuitos foram disponibilizados, com direção para a região central da cidade.

Iron Maiden em Curitiba - O Motim
Público no entorno da Pedreira Paulo Leminski

Andando por toda a extensão da Rua João Gava e pelos portões de acesso à Pedreira, uma coisa muito bacana chamou a atenção. Não é exatamente uma novidade, mas é sempre bonito ver tantas gerações de fãs preparados para a grande noite. Pessoas de todas as idades, reunidas pelo amor à música, como Wagner Fontana, 41, que levou os dois filhos Gabriel, 14, e Pedro, 10, para o primeiro show da vida deles. “Os dois já são muito fãs da banda. Estávamos em casa assistindo os vídeos do Iron e agora queremos curtir bastante, aproveitar bem o show e levar a piazada pra conhecer o grupo”, conta.

Iron Maiden em Curitiba - O Motim
Wagner Fontana e os filhos Gabriel e Pedro

Outro diferencial da apresentação em Curitiba é que foi o primeiro e único show da turnê no Brasil a contar com a venda exclusiva da cerveja Trooper Ipa da curitibana Bodebrown, cervejaria oficial do Iron Maiden no Brasil.

Iron Maiden’s gonna get you

Marcado para as 21h, o público estava ansioso para ver o sexteto inglês mais uma vez. Todos foram ao delírio quando Doctor Doctor, dos também ingleses do UFO, se fez ouvir nos alto-falantes. Era chegada a hora de estar perto de Bruce, Steve e companhia mais uma vez. Assim que a banda subiu ao palco, sendo calorosamente recebida por um público ávido por energia e diversão, a euforia foi geral. Próximo à grade de proteção, todos cantavam o coro que há anos acompanha o Iron Maiden em seus shows no Brasil.

Diferentemente de outros anos, desta vez a abertura foi encabeçada pela tríada de músicas do novo álbum, Senjutsu, iniciando com a música homônima, seguida por Stratego e Writing in the Wall. Em Stratego, fomos agraciados pela presença de Eddie, o bom e velho mascote da banda, que agora veste sua armadura samurai. Durante todo o período em que esteve no palco, o mascote interagiu com cada um dos integrantes, sendo, ao final, derrotado por Bruce em um duelo de espadas.

Iron Maiden em Curitiba - O Motim
Samurai Eddie

Após Revelations, o carismático Bruce Dickinson abre seu coração dizendo como é bom voltar ao Brasil e sentir o calor brasileiro, algo plenamente celebrado pelos fãs. E, se há uma banda amada por seus fãs, essa banda é o Iron Maiden. Assim como acontece há anos no Brasil, um verdadeiro exército cantava a plenos pulmões todas as canções, e não foi diferente com a icônica Blood Brothers.

Em Sign of the Cross, o teatro ‘Maidenesco’ tomou forma. E é essa teatralidade que esperávamos. Além da interação com as imagens exibidas nos telões, houve inúmeras explosões, fogos de artifício, trocas de figurinos e um Bruce correndo e subindo por toda a estrutura. Em Flight of Icarus, Bruce aparece com nada mais, nada menos, que um lança chamas, ativando-o em diversos momentos da música, para a delírio dos fãs.

Iron Maiden em Curitiba - O Motim
Steve Harris

Uma boa surpresa foi a volta de Halloweed be Thy Name – música que ficou de fora dos shows em 2013 – que, após uma acirrada batalha judicial, voltou à setlist da banda. Nela, Bruce cantava de trás das grades de uma prisão, assim como a história contada pela música, de um homem em seus últimos momentos antes de sua execução.

Em Fear of the Dark já sabíamos que estávamos chegando ao clímax da noite, nos preparando para aquele momento tão aguardado. Sim, estamos falando de The Number of the Beast, música que, em 1982, marcou a entrada de Bruce no Iron Maiden, sendo um de seus maiores clássicos e um dos pontos altos do show. Cantada em coro, trouxe explosões, labaredas e algumas tentativas de circle pit em uma Pedreira completamente lotada.

Iron Maiden em Curitiba - O Motim
Janick Gers

Por mais clichê que hoje soe para nós, que estamos mais velhos e chatos, não dá para negar que o famoso refrão “Six six six, the number of the beast. Hell and fire was spawned to be released” nos enche de emoção e nostalgia. Todo fã de heavy metal já foi um jovem apaixonado por essas palavrinhas cantadas à exaustão em bares, shows, churrascos e todos os tipos de encontros. E fica cada vez mais bonito quando podemos presenciar de perto o encontro de gerações cantando a mesma música com o eterno entusiasmo juvenil.

A primeira parte do show encerrou-se com Iron Maiden, do álbum homônimo de 1980, debut da banda que contava com Paul Di’Anno nos vocais. E essa música é ótima, diga-se  de passagem. É o NWOBHM em sua melhor forma. Encerrada a música, a banda sai do palco para se preparar para o encore. A pequena pausa dramática não durou muito e o grupo logo retornou para outra música icônica: The Trooper. Nessa hora, temos o retorno do Eddie, agora em sua versão “zumbificada” de um soldado inglês, eternizada durante a turnê do álbum Piece of Mind, de 1983. Em mais um duelo com o, agora, soldado Bruce – em seu primeiro duelo Bruce era, também, um samurai -, cujo figurino seguiu em The Clansman e Run to the Hills.

Iron Maiden em Curitiba - O Motim
Adrian Smith

Após quase duas horas de show e mais uma pausa, era a hora de nos despedirmos. Isso ficou claro quando começou a ser exibido o discurso do ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill, posteriormente conhecida como “We Shall Fight on the Beaches”, ou “Devemos lutar nas praias”:

“We shall go on to the end.
We shall fight in France
We shall fight over the seas and oceans.
we shall fight with growing confidence and growing strength in the air.
We shall defend our island whatever the cost may be
we shall fight on beaches, we shall fight on the landing grounds,
we shall fight in the fields and in the streets,
we shall fight on the hills.
We shall never surrender.”

 

Era hora de Aces High, uma música que fala sobre a resistência britânica na Segunda Guerra Mundial, contando como os pilotos da RAF (Força Aérea Real inglesa) lutaram contra os japoneses. Como parte do cenário, um grande Spitfire, único avião de caça aliado a voar em combate durante o período, foi içado sobre o palco. E, assim, sabíamos que o show estava perto de seu fim.

Iron Maiden em Curitiba - O Motim
Dave Murray

Devemos reconhecer que houve muitas falhas na execução das músicas, seja entradas erradas do veterano Nicko McBrain, as guitarras fora de harmonia, músicas executadas em um andamento muito abaixo do original, como em Fear of the Dark, ou falhas do próprio Bruce, que chegou a levar bronca de Steve Harris ao fim de Iron Maiden. Claro, são mais de quarenta anos de estrada e não podemos esperar a mesma vitalidade de outrora, mas não tem como ignorar os diversos erros ocorridos no show.

Entretanto, o desempenho geral correspondeu ao que se espera de músicos tão experientes, com um espetáculo entregue sob medida. Foi um verdadeiro presente após dois anos de dificuldades impostas pela pandemia de coronavírus.

Avatar

Com a difícil tarefa de ser banda de abertura para o Iron Maiden, os suecos do Avatar dividiram opiniões. Também repleto de teatralidade, o grupo, que até então foi considerado death metal melódico, é uma versão mais moderna ainda do metalcore, com diversas influências. Sendo a primeira vez em território brasileiro, o grupo teve seus bons momentos e conseguiu agradar parte dos fãs, principalmente os mais jovens, impressionados com a presença de palco freakshow dos integrantes.

Avatar em Curitiba - O Motim
Avatar

 

Extremamente carismáticos, o grupo formado por Johannes Eckerström (vocal), Jonas Jarlsby (guitarra), Tim Öhrström (guitarra), Henrik Sandelin (baixo) e John Alfredsson (batera) conseguiu manter a postura e arrancar aplausos, mas, em geral, não impressionou e, definitivamente, não foi a escolha certa para a ocasião. Quem sabe em outro momento, com menos expectativas.

De modo geral, foi uma noite para ficar guardada na memória. Centenas de fãs voltaram para a casa com a sensação de dever cumprido em poder ver, mais uma – e quem sabe, a última – vez, uma autoridade musical como é o Iron Maiden.

 

SETLIST IRON MAIDEN

Senjutsu
Stratego
The Writing on the Wall
Revelations
Blood Brothers
Sign of the Cross
Flight of Icarus
Fear of the Dark
Hallowed Be Thy Name
The Number of the Beast
Iron Maiden

Encore

The Trooper
The Clansman
Run to the Hills
Aces High

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