VENTRE LAICO MENTE LIVRE: Um manifesto musical pela descriminalização do aborto

Por: Católicas

Mulamba, Juliana Strassacapa (Francisco El Hombre), Brisa Flow, Luana Hansen e Dominatrix se juntam em projeto musical de Católicas pelo Direito de Decidir que debate os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. O projeto também conta com participações de Ekena, Raíssa Fayet e Moyenei Valdés e com arte de Elisa Riemer. A ser lançado também em vinil, o álbum “Ventre Laico Mente Livre” estará disponível em todas as plataformas digitais a partir do início de setembro, antecipando a agenda de ações para o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta Pela Descriminalização do Aborto, que acontece em 28 de setembro.

Produzido por Elisa Gargiulo (Dominatrix), o projeto trata de um tema delicado, mas de extrema importância no atual cenário. As mulheres que recorrem à interrupção da gravidez o fazem com a plena noção do que significa uma maternidade não desejada. Violência sexual, falta de acesso a contraceptivos, conflitos familiares, dificuldades econômicas e sociais ou o simples desejo de vivenciar a maternidade no momento oportuno e de forma planejada, fazem do aborto uma realidade recorrente no Brasil.

Conheça as artistas

De Curitiba e bastante conhecidas pelo vídeo de “P.U.T.A” (3 milhões de views no YouTube), Mulamba usa sua linguagem musical para reiterar seus anseios e inquietações pela igualdade de gênero e outros temas de cunho social e político. A banda foi indicada à categoria de “Melhores Instrumentistas”, no Women’s Music Event 2018. Foi convidada para participar do projeto “Escuta as Minas”, do Spotify, ao lado de Elza Soares, Karol Conká, Maiara & Maraísa e outras grandes mulheres da música brasileira. Seu homônimo álbum de estréia, gravado no RedBull Station (SP) figurou na lista de “Melhores do Ano” de diversos veículos especializados, e foi incluído na respeitada lista do APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como um dos melhores 25 lançamentos do segundo semestre de 2018. Em janeiro de 2019, foi indicada como “Artistas pra ficar de olho 2019” pelo Youtube Music. Mulamba representa um grito de vozes silenciadas, reforçando o protagonismo feminino na música nacional.

Juliana Strassacapa é cantora, compositora e percussionista, integra a banda Francisco, El Hombre. Lança através deste álbum coletivo seu primeiro trabalho solo. Já colaborou com artistas como Liniker, Mulamba, Maria Gadú, Rodrigo Lemos, Čao Laru, Ator Morto, Juana Fé, Cuatro Pesos de Propina, Merken, La Bomba de Tiempo. Sua pesquisa musical se envereda pelos folclores brasileiros e latinoamericanos mesclados a experimentações eletrônicas.

Brisa de la Cordillera, mais conhecida como Brisa Flow, é cantora, musicista, compositora, poeta, performer, produtora musical, ativista e um dos principais expoentes do indígena futurismo no Brasil. Filha de um casal de artistas chilenos, nascida em Minas Gerais, iniciou seu processo artístico em Belo Horizonte e mistura a levada latina com rap, eletrônico e neo/soul. Seu primeiro álbum foi lançado em 2016, intitulado “Newen”, que significa “força” na língua nativa do povo ameríndio Mapuche e esteve entre os 20 melhores lançamentos daquele ano selecionados pelo Estadão. Foi artista “aposta” da Folha de São Paulo em 2017. O segundo trabalho, “Selvagem Como o Vento”, foi lançado em dezembro de 2018, esteve entre diversas listas e concorreu pelo site da Redbull entre os melhores 50 discos do ano. Recebeu prêmio Olga Mulheres Inspiradoras. Seu show apresenta as músicas de seus dois álbuns com performances misturando instrumentos analógicos e eletrônicos. Já se apresentou na Virada Cultural de São Paulo (2016, 2017, 2018), Tomie Ohtake, Meca Inhotim, Teatro da UFF e faz o circuito SESC.

Luana Hansen é feminista, negra, lésbica, mãe, rapper, DJ, MC e produtora musical. Sua atuação é conhecida no campo da música e dos direitos humanos. Luana está presente há 20 anos no Movimento Hip Hop e sua vida já foi tema de mais de 80 artigos acadêmicos. Luana participou dos documentários “4 Minas”, “Mulheres Negras”,” Vozeria”, “Babado Periférico”, em e “5 vezes Luana”. A artista celebrou o movimento feminista com músicas como “Negras em Marcha”, com participação de Leci Brandão e considerado hino da Marcha das Mulheres Negras, “Marielle Presente e “Ventre Livre de Fato”.

Com 24 anos de estrada, três turnês internacionais e 4 discos lançados, a banda de hardcore feminista Dominatrix é referência no cenário punk e hardcore mundial. Em sua formação, a banda conta com Elisa Gargiulo (guitarra e voz), Fernanda Horvath (baixo), Marina Takahashi (guitarra e voz) e Nina Pará (bateria). Elisa Gargiulo é ativista feminista e já participou de projetos musicais feministas como Fantasmina e Visiona, produziu 7 edições do festival feminista musical Ladyfest Brasil e dirigiu e criou a trilha sonora do documentário “4 Minas”, vencedor do 13º Prêmio da Associação da Parada LGBT de São Paulo.

Estatística

A Pesquisa Nacional de Aborto 2016 mostrou que uma em cada cinco mulheres brasileiras de até 40 anos já fez aborto. Destas mulheres, 67% já tinham filhos. Ter vivenciado anteriormente a maternidade possibilita que essas mulheres compreendam a importância de decidir sobre o melhor momento e em quais condições desejam ser mães novamente. Por outro lado, políticos fundamentalistas justificam a criminalização da interrupção voluntária da gravidez como uma defesa da família, pautados por uma visão religiosa moralista que vê a maternidade como destino de todas as mulheres. Contudo, “se todas as mulheres fossem punidas pela lei atual, teríamos hoje 3 milhões de famílias que ficariam sem mães, ou cujas mães teriam passado pela prisão em algum momento da vida”, como denuncia Débora Diniz. O discurso moralista esconde o desejo de controle sobre os corpos, consciências e destinos das mulheres.

Em “Mulheres, Raça e Classe”, Angela Davis diz que muitas mulheres negras e latinas, mesmo em momentos em que desejam ser mães, recorrem ao aborto em razão da situação de miséria em que se encontram. É neste lugar – sem creche, sem trabalho, sem saúde e com violência policial – que desejam ter seus filhos? A luta pela legalização do aborto deve incluir as reivindicações por uma vida digna, sem esterilizações forçadas, sem a violência perpetuada pelas mãos do Estado e com acesso ao trabalho e ao bem viver. As mulheres negras são as mais expostas à falta de segurança típica de abortos clandestinos, além de sofrerem mais com a dificuldade de acessar serviços públicos de saúde quando esses procedimentos levam a complicações que colocam suas vidas em risco. As mulheres negras, pobres, indígenas e nordestinas nos fazem refletir sobre o tema da justiça reprodutiva, dimensão ampliada da discussão sobre a luta pelo aborto legal e seguro.

Por isso, em meio a tantas vozes de mulheres que precisam ser amplificadas, as músicas presentes em “Ventre Laico Mente Livre” somam forças na luta. Enquanto a sociedade cala, as instituições julgam e os homens falam sobre o que não vivem na pele, as mulheres sofrem sozinhas. Nós, Católicas pelo Direito de Decidir, e as trabalhadoras da arte presentes neste projeto daremos, por meio da música, voz à dor e à resistência dessas mulheres, para que levantem a cabeça e sigam adiante sem o peso da culpa e com a mente livre.

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