Por que as mulheres vão às ruas no dia 8 de março?

8 de março marca a luta das mulheres por igualdade, respeito e dignidade
Por: Anna Barbara Tuttoilmondo
Foto de capa: Danielle Costa
É sábado à tarde. Preparo-me para trabalhar e terminar meus trabalhos universitários. Ligo o notebook, abro o navegador e, como de costume, vou checar minhas redes sociais, que atualmente me servem mais como um caminho para acesso às notícias do que qualquer outra coisa. A chamada de uma notícia prende minha atenção. Respiro fundo enquanto tento digerir a notícia: “Aborrecido com som da TV, homem mata companheira no Dia da Mulher“. Tão fútil. Tão banal. Tão triste.
Diariamente, nos deparamos com notícias terríveis de feminicídio. Sim, é esse o nome: feminicídio. Cruel, brutal, direto, específico. O termo, usado para denominar assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero, virou lei dia 09 de março de 2015, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff, considerando que o crime de feminicídio envolve “violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Tipificado como crime hediondo, sua pena é de 12 a 30 anos de prisão.
A lei, no entanto, não parece surtir efeito quando vemos que o Brasil está no ranking dos piores índices de feminicídio do mundo. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada duas horas, uma mulher é assassinada no país. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 50,3% dos crimes são cometidos por familiares e 33,2% são parceiros ou ex-parceiros.
Se já não fossem suficientes estes índices absurdos, temos ainda um outro problema: o aborto. Atualmente, no Brasil, o aborto é considerado crime, com penas previstas de 1 a 3 anos de prisão. No entanto, em caso de risco de vida para a mulher, ou se o feto por anencefálico, e, principalmente, em caso de gestão resultante de estupro, o aborto deixa de ser crime. Mas como no Brasil a vida e o corpo da mulher não valem nada, a chamada “PEC da vida”, criada pelo ex-senador Magno Malta (PR-ES), (aquele mesmo, pastor evangélico apoiador de Bolsonaro que ficou chateado por não ter ganho nenhum cargo de presente do presidente), foi desengavetada. E por que a “PEC da Vida” é tão polêmica? Simples: ela altera o artigo 5º da Constituição para determinar a “inviolabilidade do direito à vida desde a concepção”. Ou seja, se você for estuprada e engravidar, será obrigada a ficar com o fruto do trauma. Caso contrário, será uma criminosa.
Eu poderia passar o resto do dia falando sobre todos os absurdos que uma mulher enfrenta no Brasil: salário desigual, assédio, preconceito no mercado de trabalho, principalmente contra que tem filhos e tantos outros, isso sem contar as violências específicas sofridas por mulheres negras, indígenas, imigrantes, refugiadas ou transsexuais. Não é querendo assumir para mim, enquanto mulher, um papel de vítima, mas as estatísticas estão aí. As pesquisas foram feitas e as pessoas foram ouvidas. São números, e eles trazem a verdade.
A resistência nos une, a luta nos liberta

Após toda essa reflexão, me perguntei se valeria a pena ir à uma marcha. “Afinal, o que uma marcha pode fazer de impactante?” De forma prática, não tem nenhum resultado direto: de ontem pra hoje não surgiu nenhuma lei visando melhorar a vida das mulheres, mas teve outra coisa, outro efeito. Eu percebi que não estamos sozinhas. Somos muitas. Somos diferentes. Temos história, criação, estudos, trabalho, bagagens diferentes, mas estávamos todas ali, gritando, cantando, falando, dançando, batucando.
Com chuva ou sem chuva, mulheres de todas as idades e etnias segurando cartazes, de corpos pintados e sorriso no rosto, se uniram na Praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná, dando início à Marcha das Mulheres pelo #8M, que em Curitiba ocorreu em 3 atos, dividindo-se entre apresentações como o Slam das Gurias (batalha de poesia falada por meninas), batucadas com a bloca Ela Pode, Ela Vai, além da presença de diversas organizações como o Sindicato das Bancárias e Financiárias de Curitiba, a União Brasileira de Mulheres e até mesmo a atriz global Letícia Sabatella.
Para este texto, não irei aprofundar-me na importância histórica do dia 08 de março. Deixarei para um outro momento. No entanto, compartilho aqui o orgulho e a esperança de ver tantas mulheres deixando de lado, nem que por um único minuto, os anseios pessoais para entender a complexidade do “outro”, no caso, da outra – dos problemas, das violências, da solidão. Que neste 8 de março as mulheres lembrem que, em um momento tão conturbado e sombrio da nossa política, com tantos retrocessos, a resistência nos une, a luta nos liberta.


Jornalista, estudante de História – Memória e Imagem na UFPR, é curiosa, apaixonada por música, viajar e ouvir as histórias das pessoas.