Paradise Lost: entrevista com Nick Holmes

Por Anna Tuttoilmondo

Com quase 30 anos de estrada, 14 álbuns e uma carreira sólida, o Paradise Lost é um dos nomes mais emblemáticos do metal. Com seus arranjos sombrios e letras profundas, os ingleses são um dos responsáveis pelo surgimento do gothic metal e, posteriormente, o doom metal, influenciando, desde então, diversas bandas ao redor do mundo e ao longo dos anos.

Menos de um ano após sua última passagem pelo país, para uma apresentação no Overload Music Fest em setembro de 2015, o grupo retornou ao Brasil para algumas apresentações em Manaus, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Limeira, além de integrar  o cast da primeira edição do Epic Metal Fest, em outubro de 2016 na cidade de São Paulo.

Neste meio tempo, o vocalista e líder da banda, Nick Holmes, nos concedeu uma entrevista para falar, entre outras coisas, sobre o trabalho que tanto ama. Confira!

Artemis: Vocês têm participado de muitos festivais e, agora, vem ao Brasil para o “Epic Metal Fest”. Levando em consideração a sonoridade da banda, vocês se sentem mais à vontade para performar em festivais ou solo?

Nick: Qualquer um é bom, a menos que você seja o headliner de um festival. É bom ter mais controle sobre as luzes ou sobre as coisas do palco quando você está tocando em seu próprio “club show”.

Artemis: O álbum “The Plague Within”, lançado ano passado, é considerado um retorno às raízes da banda. Pessoalmente, eu gosto dos estilos musicais explorados pela banda ao longo de sua carreira. Mas a concepção para esse álbum surgiu de forma natural ou vocês já tinham em mente que “precisavam” fazer um álbum mais pesado, retomando a essa sonoridade?

“The Plague Within”, lançado em 2015 pela Century Media

Nick: Tivemos a frase “de volta às raízes”, dita a nós nos últimos 10 anos. Eu não acho que nada disso é particularmente verdadeiro. Como tudo o que fazemos, para melhor ou pior, influencia a próxima coisa que fazemos. São as mesmas pessoas que estão escrevendo as músicas e nós ainda gostamos das bandas que gostamos nos anos 80, assim como de novas bandas. Cada página vira para a próxima. Se houver traços do passado, então ele tem que ser natural e não forçado, nunca olhamos para trás.

Artemis: Ainda sobre o Plague Within, o álbum recebeu muitas críticas positivas, tanto da mídia especializada quanto dos fãs. Como vocês analisam esse trabalho como um todo?

Nick: Representa o Paradise Lost em 2015, como o próximo nos representará em 2017. Nós aspiramos fazer de cada álbum o nosso melhor, às vezes funciona e às vezes não, mas pensar que seu melhor trabalho está atrás de você não é produtivo. Eu acho que os fãs do Paradise Lost e nós, como fãs de música, somos muito parecidos.

Artemis: Ainda em 2015 vocês também lançaram o “Symphony for the Lost”, em conjunto com a Orquestra Filarmônica de Plovdiv, da Bulgária. Contem-nos um pouco sobre como foi o processo de execução e gravação desse trabalho.

Nick: Fizemos isso como uma experiência. Foi uma experiência divertida tocar músicas em um ambiente orquestral ao vivo. Foi montado muito rapidamente mas funcionou bem, e os fãs foram incríveis naquela noite.

Artemis: Novamente o Paradise Lost passou por mudanças em sua formação, com a saída do Adrian Erlandsson, substituído pelo Waltteri Väyrynen, baterista que já vem acompanhando a banda. Como tem sido a adaptação dele? Waltteri é agora membro oficial?

Waltteri Väyrynen

Nick: Sim, ele é um membro oficial. Adrian é um bom amigo e um grande baterista, mas às vezes a vida real fica no caminho, especialmente na nossa idade, e Adrian achou difícil de manipular seus outros projetos com Paradise Lost. Felizmente, Waltteri já estava tocando com Vallenfyre, então ele estava meio à nossa porta. Ele é um jovem com apenas 22 anos, mas já é super versátil, pode transformar seu estilo em qualquer coisa, e tem um futuro brilhante como baterista.

Artemis: Em entrevista ao Metal Nation Radio, Waltteri contou que agora faz parte do processo de composição. Como ocorre esse processo e o que os inspira? Todos participam?

Nick: As canções são trabalhadas de antemão, Greg programará a bateria para o bem das demos, e então são interpretados na bateria real. Obviamente, quanto mais músicas forem praticadas, mais o estilo de cada músico virá, o mesmo para os outros instrumentos.

Artemis: Vocês também mudaram de gravadora, integrando o fantástico catalogo de bandas da Nuclear Blast. Como ocorreu essa mudança e como ela pode ser benéfica para vocês?

Nick: Nós estávamos com a Century Media por 10 anos, é uma ótima marca de rock e é dirigida por fãs de música, da maneira que deveria ser. No entanto, a Nuclear Blast ofereceu-nos um melhor negócio e, por vezes, uma mudança é tão bom como um descanso. Simples assim.

Artemis: Vocês já gravaram alguns covers curiosos como “Missing”, do Everything But a Girl e “Smalltown Boy”, do Bronski Beat. Quando vocês resolvem fazer um cover, como escolhem a música?

Nick Holmes

Nick: Há um monte de grandes canções dos anos 80 e 90 que passaram por nós quando éramos crianças jovens, e muitas grandes canções pop são escritos em uma chave menor, que se adequava ao nosso estilo na época. Acho que versões de metal de músicas pop são muito chato agora. Eu não sou contra covers, mas o Paradise Lost não fará mais covers de músicas dos anos 80 ou 90!

Artemis: Atualmente, quais artistas tem chamado a atenção de vocês?

Nick: Uma grande banda portuguesa chamada Sinistro e, algo diferente, Carpenter Brut. Eu sou um grande fã da música de filmes de terror dos anos 80, e amo as coisas retrô de dark wave.

Artemis: Há anos atrás o Aaron Aedy concedeu uma entrevista ao site sueco Metalshrine falando sobre as complicações dos downloads. Com os atuais serviços de streaming, como vocês veem o consumo da música pelas plataformas digitais e de que forma elas podem ser vantajosas para os artistas?

Nick: Álbuns serão apenas um veículo para promover turnês e mercadorias. Já é assim para as bandas menores e, possuir uma cópia física de um álbum, já está desaparecendo. Estar em uma banda profissional é tudo sobre tocar ao vivo, e se você não fizer turnê, então uma carreira em uma banda não é para você. Infelizmente, ganhar a vida sentado em um quarto não é uma opção por mais tempo, a menos que você esteja envolvido com partituras musicais, TV ou trilhas sonoras de filmes, mas este mundo é notoriamente difícil de entrar.

Artemis: Em uma época onde o download ilegal ocorre normalmente, o lançamento de singles e a pré-venda de álbuns pelas plataformas digitais contribuem para o crescimento da banda?

Nick: Os mercados podem, realmente, se abrir se sua música estiver disponível para download e houver zumbido suficiente em torno da banda. Não é mais apenas tocar na rádio e aparecer na TV, o que era praticamente tudo (no que diz respeito ao sucesso de uma banda) quando começamos. Por exemplo, a América do Norte costumava ser SOMENTE sobre a exposição de rádio, mas agora muitas bandas europeias têm lá um sucesso que se fosse há 20 anos atrás, provavelmente teriam lutado muito.

Artemis: Nesses quase 30 anos de estrada, quais os pontos positivos e negativos que vocês destacam na história do Paradise Lost?

Nick: Positivo é estar em um trabalho que amamos, fazendo a nossa própria coisa e ninguém nos dizendo para fazer nada, e é isso que a vida é sobre, até onde eu sei. Se terminar amanhã, não me arrependo de nenhum dia. O único aspecto negativo que tenho pessoalmente é passar meses longe de casa, mas isso é parte do acordo por estar em uma banda.

Artemis: Vocês já estão trabalhando no sucessor de “The Plague Within”?

Nick: Sim, estamos na metade da escrita.

Artemis: O que podemos esperar do Paradise Lost no futuro?

Nick: O próximo álbum será bem pesado, bem gótico, bem doom, bem death, como tudo que há em torno.

Artemis: Deixem uma mensagem aos leitores do Artemis Rock News.

Nick: Obrigado pelo apoio. Espero voltar em breve para a América do Sul!

Confira “Beneath Broken Earth”, do último álbum “The Plague Within”:

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