O Fim da Eternidade – A obra-prima de um gênio

O Fim da Eternidade mistura ficção científica e romance de maneira genial

Quando falamos de Isaac Asimov, o que nos vem à mente é sua obra mais famosa, Eu, Robô, coleção de contos onde as leis da robótica foram definidas. Podemos até lembrar de O Homem Bicentenário, finamente adaptado para o cinema. Raramente lembramos que Asimov não escrevia apenas sobre ficção científica ou robôs, mas que também escrevia romances. Um deles, O Fim da Eternidade, é uma obra de ficção científica no ponto de vista analítico, mas o enredo nos traz um romance como poucos. Combinando elementos como viagem no tempo com as relações humanas e suas repercussões, Asimov nos entrega uma obra que não pode ser descrita como sendo menos do que fantástica.

Como obra, O Fim da Eternidade é tão marcante que, inclusive, elementos seus foram incorporados por J.J. Abrams em sua série de ficção científica Fringe. Ela fala de um futuro onde não contamos mais o tempo em anos, mas em séculos, e onde a raça humana aprendeu a viajar pelo tempo, podendo alterar eventos temporais para reajustar e corrigir erros que prejudiquem nosso destino. É interessante ver como Andrew Harlan, um eterno – funcionário da Eternidade, a organização responsável pela viagem no tempo e pelos ajustes temporais – exemplar, se envolve em situações que contrariam sua própria convicção, indo contra tudo aquilo que ele acredita.

A viagem pelo tempo

A Eternidade controla o tempo. É ela quem analisa os dados coletados através dos séculos (passados e futuros) e determina quando e como mudanças devem ser feitas para corrigir as falhas causadas pelos não-eternos – pessoas comuns que não têm autorização para viajar pelo tempo. Os dados são analisados pelos Computadores – pessoas, e não máquinas – para determinar o momento exato em que um eterno deve fazer uma MMN – Mudança Mínima Necessária -, promovendo uma correção na linha temporal daquele momento em diante. As viagens são realizadas em uma espécie de cápsula onde o eterno gira controles para determinar para qual século ele irá.

Dentro deste contexto, não são levados em consideração os dias, meses ou anos. Quando um eterno se refere a eles, e o faz com desdém, é na medida de fisiodias, fisiomeses e fisioanos. Essa medida, desprezada pelos eternos, é usada pelos não-eternos para contarem seu tempo. Eternos não têm seu tempo contado dessa maneira, já que podem viajar entre os séculos, e, portanto, não envelhecem. Isso permite que eles trabalhem por muito tempo para a Eternidade, garantindo sua própria existência.

O romance

Em O Fim da Eternidade, Asimov trouxe um elemento interessante para uma história de ficção científica: o romance. Não que isso não seja comum, até corriqueiro, mas a forma como ele acontece é que deixa tudo interessante. Eternos não podem, terminantemente, envolver-se romanticamente com outros eternos ou não-eternos sob pena de exclusão da Eternidade. Andrew sabe disso desde que era um Observador (alguém lembra de Fringe?). Observadores, em tempo, são eternos em treinamento, recém colhidos em seus séculos e que estão sendo treinados para se tornarem técnicos, como Harlan, ou computadoreseternos que computam os dados e calculam as repercussões das MMNs.

Ao entrar em contato com Noÿs, uma linda não-eterna, sua convicção sobre suas obrigações com a Eternidade ficam estremecidas. Andrew se vê em um dilema de difícil solução: desprezar os sentimentos que tem por Noÿs e continuar a ser um eterno ou deixar para trás tudo o que sabe sobre o tempo e se juntar a ela em algum dos séculos. A forma como Asimov desenvolve a relação de Harlan e Noÿs é muito profunda. Em certos momentos, é impossível prever o que Harlan fará, pois teme que outros eternos descubram o segredo que pode destruí-lo para sempre.

Então, o fim da Eternidade

O desfecho de Asimov para O Fim da Eternidade é, no mínimo, surpreendente. Não pelo papel de Harlan, mas pelo de Noÿs. É interessante ver qual é o propósito que Asimov atribui aos protagonistas da história e como eles acabam assumindo esse papel. Quando estamos próximos do fim, onde as principais revelações são feitas, não conseguimos mais parar de ler. A narrativa vai se tornando cada vez mais empolgante e nos deixa a sensação de que algo maior ainda está por vir.

Então, o Fim da Eternidade não é sobre romance, ou viagens pelo tempo, mas sobre como as interações humanas podem ou não influenciar nossas crenças.

As “falhas” do enredo

Se você não leu O Fim da Eternidade e não gosta de spoilers, recomendo que você pare de ler agora. Agora, se você já leu ou não liga pra isso, vá em frente.

Até agora, não sabemos se foram intencionais ou não os paradoxos introduzidos na história. Se prestarmos muita atenção, veremos, ao menos, três desses paradoxos.

  1. Paradoxo de duplicidade – quando Harlan viaja pelo tempo e encontra a si mesmo;
  2. Paradoxo do ovo e da galinha (ou paradoxo de bootstrap) – quando a Eternidade envia Copper, o observador treinado por Harlan, para o passado para que ele crie a Eternidade para que ela possa enviá-lo ao passado para que ele crie a Eternidade para que ela possa enviá-lo ao passado e assim por diante;
  3. Paradoxo do avô – quando Harlan viaja pelo tempo para destruir a viagem pelo tempo.

Mas, ao final, a perspectiva ainda é animadora.

Com aquele desaparecimento… veio o fim, o último fim da Eternidade.
—E o início da Infinidade.

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