Por: Willian Jhonnes

Salve galera! Estou aqui novamente para discutirmos o underground. Como fiz no artigo passado, vou trazer mais uma face questionável da cena underground: o amadorismo. Sempre tive a opinião de que undergroundamadorismo nunca foram sinônimos, mas não é isso que temos visto na cena como um todo. Desde bandas a produtores, passando por donos de bares e assessores de imprensa, o nível de profissionalismo é realmente baixíssimo. Aqui e ali vemos projetos fracassados, trabalhos (muito) mal feitos e bandas em situações precárias, e isso não é uma coisa que deveria acontecer. O underground, como um todo, carece de uma profissionalização.

As bandas

As bandas não precisam ser ruins para fazerem jus ao título de underground. A cena nunca será forte enquanto os músicos destas bandas não se tocarem e verem que precisam evoluir para que sua banda obtenha o destaque que eles tanto desejam. Volta e meia vemos em um bar uma banda autoral (o que é, sempre, uma ótima iniciativa) tocando muito mal, sem um mínimo de profissionalismo e respeito ao público que foi lá para assistí-la. Músicos que, seja pela apatia do público por conta de sua música tecnicamente ruim, seja pelo seu amadorismo ao montar seu próprio equipamento no palco, encerram seu “show” após a terceira música e saem do palco reclamando de tudo, como se fossem vítimas. O público que pagou sua entrada e se dispôs a ver o show de bandas assim se sente, obviamente, desrespeitado, pois esperava um pouco mais de consideração e profissionalismo.

Então, não adianta reclamar do público, do bar, do palco, do equipamento ou de todo o resto quando a culpa é exclusivamente sua. Não adianta choramingar quando o público não assiste à sua banda se você continua agindo como um amador. Não importa se a sua banda tem 10, 15, 20 anos (e você se gabe disso o tempo todo) se você não age como um profissional, preferindo agir apenas como um otário que tem uma banda e acredita que, por isso, todos devam gostar de você ou sua música. A cena precisa de mais pessoas comprometidas, que levam a sério o trabalho que fazem (e destas eu tenho uma grande lista), pois é com elas que a cena se fortalece. Essas pessoas (e suas bandas) demonstram um grande senso de profissionalismo, seja com suas músicas bem compostas, seus shows bem executados e seu trabalho em seus álbuns. São elas que fazem com que a cena se movimente, seja conhecida fora de seus redutos e tenha um pouco mais de visibilidade mas, por conta dos amadores – que são a grande maioria nesse cenário -, acabam pagando um preço alto por esse amadorismo, pois o público acaba deixando de comparecer a um ótimo show, de uma ótima banda, porque esses amadores estão envolvidos.

Os produtores

Outra face deste amadorismo está naqueles que organizam os eventos underground. Com eles, falta planejamento, logística, organização e divulgação. Esses amadores têm, claro, o péssimo hábito de competirem entre si. Alguns são capazes, inclusive, de organizar eventos para a mesma data que o seu rival, dividindo o mirrado público que qualquer um dos dois teria. Muitos deles, como já presenciei, se orgulham por agir assim e acreditam, realmente, que estão lutando pela cena. Seres assim, com suas guerrinhas e disputas infantis e seus egos inflados e frágeis, fazem com que o público se sinta desmotivado em participar de qualquer evento que seja.

Outro ponto é a falta de planejamento. Muitos eventos underground são organizados sem qualquer forma de planejamento. São escolhidas datas ruins, muito próximas de grandes eventos ou – e isso se refere muito à nossa realidade – muito próximas ao fatídico “fim do mês”. No Brasil, em nosso atual momento econômico, fica difícil para a grande maioria do público ir a 4 ou 5 eventos em um mesmo mês, por mais que eles não sejam caros. Pior ainda é quando se tem um grande evento competindo com um evento underground. Fica difícil encher um bar que apresente uma banda local de Thrash Metal quando o Slayer vai se apresentar no mesmo mês ou, principalmente, na mesma semana. Se o produtor tivesse um pouco mais de cuidado com a escolha das datas, ou se mantivesse atualizado com as datas dos grandes shows, talvez seus eventos não sofressem com o esvaziamento do público. Mesmo já tendo enfrentado essa situação, algum produtores continuam insistindo em não planejar melhor seus eventos. Não adianta organizar um evento para o fim do mês, quando a galera já não tem mais dinheiro pra um show pois prefere ir pro boteco beber cerveja mais barata.

Outra coisa que esses amadores costumam esquecer é a divulgação. Hoje, com as redes sociais, parece fácil divulgar um evento, mas a coisa não é tão simples assim. Não adianta nada criar um evento no Facebook e compartilhá-lo 50 vezes em sua própria linha do tempo; apenas as mesmas pessoas que visualizaram da primeira vez visualizarão novamente e, se elas não se interessaram por ele na primeira vez, não será na vigésima que isso ocorrerá. É preciso entender como funciona a comunicação, entender que apenas compartilhar infinitamente um evento no Facebook não levará ninguém ao show, e que que sem um plano de comunicação eficiente e uma boa divulgação (a qual, claro, custa dinheiro), seu evento estará fadado ao fracasso. E, não, isso não mudará enquanto esses amadores continuarem acreditando que sem investimento seus eventos serão um sucesso.

Os bares

Não adianta ter um palco e abrir espaço ao pessoal underground da cidade se você não é competente para isso. Ao contrário do que vemos aqui em Curitiba, em bares como o 92 Graus, milhares de bares espalhados por aí contam com verdadeiros amadores em sua condução. Bares que, um dia, foram os maiores da cidade, dada a incompetência de seus donos, hoje já não existem mais. Seja pela péssima qualidade do som, do atendimento ou pelo nível das bandas apresentadas, esses bares sofreram com um irremediável decréscimo em seu público, levando-os à falência. Mesmo que tenhamos bares que representam o espírito underground há mais de 30 anos e que sobrevivem a todas as crises e percalços da nossa economia, cultivando o respeito de todos aqueles que, mesmo por um dia, os frequentaram, a maioria dos bares que se intitulam como underground não passam de grandes pocilgas.

Como é possível que alguém se proponha a representar um movimento sem um mínimo de profissionalismo e comprometimento? Não dá pra esperar de alguém que, como objetivo, quer apenas o lucro das vendas e explora as bandas que ele decide colocar em seu palco. E, para piorar, esse escroto ainda decide cobrar um valor exorbitante por tudo que vende, esperando que o público se sujeite a isso como se fosse sua única opção. Nessas situações é que questiono: onde está o profissionalismo deste dono de bar? O mesmo proprietário que já ouvi dizer que se vê obrigado a oferecer comida para poder atrair o público é o mesmo que quer obrigar o músico a receber uma miséria como cachê e, quando músicos mais qualificados e mais sérios se recusam a tocar pela miséria que ele oferece, coloca as piores e mais amadoras bandas da cidade para tocar. Pessoas assim fazem com que a cena toda se esvazie, já que nenhuma banda underground séria vai querer um evento nestes locais, dados todos os problemas que isso pode lhes trazer.

A imprensa

Sim, lá vou eu reclamar da imprensa de novo. Hoje, com a facilidade para criar e manter um site, qualquer um pode ser um veículo de imprensa. Com isso, temos um inchaço nesse setor e, por consequência, uma queda absurda na qualidade do trabalho. É muito comum ver “assessores” de imprensa fazendo trabalhos realmente amadores e, pior, cobrando por isso. Aqueles R$ 200,00 que uma banda underground paga para seu assessor disparar releases mensalmente poderiam ser muito melhor aproveitados se, ao invés de um amador, fosse contratado um profissional de verdade. É ridículo receber um material de imprensa mal escrito, mal composto e, principalmente, completamente desnecessário. Recebi, há algum tempo, como um grande release, um vídeo de péssima qualidade de uma banda excelente, mas que, neste vídeo, a fez parecer igualmente péssima. Isso é um desserviço, tanto para o assessor quanto para a banda, pois isso transpira amadorismo. Gerar um volume absurdo de informação inútil, mal concebida, não faz com que o underground se fortaleça. Ao contrário, apenas os veículos mais amadores e sem qualquer visibilidade se preocuparão em veiculá-las.

E, por falar nisso, o número de amadores que se apresentam como veículos de imprensa é inacreditável. Volta e meia surge um novo blog sobre a cena underground, feito por pessoas desqualificadas e sem qualquer compromisso com o trabalho. A impressão que tenho é que essas criaturas brotam dos esgotos para tentar aparecer a qualquer custo, entrar em shows de graça e terem seus sacos puxados de alguma forma. Não são profissionais, não se comprometem com aquilo que se propõem a fazer e, acima de tudo, querem apenas frequentar as rodinhas paneleiras das quais falei no artigo passado. Sim, esses cretinos também prejudicam a cena, pois não estão realmente interessados em fortalecer o movimento underground. Essas pessoas querem, claro, colher os frutos de algo que não construíram, nem se interessam em fazer um bom trabalho, prejudicando todos os outros que, ao contrário deles, lutam pela união e força do underground.

Pra terminar…

Não adianta querer uma cena underground forte como vemos lá fora se não fazemos nada para fortalecê-la. Enquanto permitimos que amadores se proliferem e sobrevivam nesse meio, nunca sairemos dessa mediocridade. Não conseguiremos mais do que 30 pessoas em um show se não nos organizarmos e planejarmos bem nossos eventos. Não seremos levados a sério se insistirmos em não nos comprometermos com aquilo que fazemos, sejamos músicos, produtores, donos de bares ou profissionais da imprensa. Não adianta não criticarmos o que vemos de errado se é isso que nos limita e nos faz permanecer nessa mesma situação.

Enfim, se não nos profissionalizarmos e, principalmente, se não começarmos a valorizar aqueles que realmente se comprometem com aquilo que fazem, nunca sairemos dessa lama.